Centro Independente de Cultura Alternativa e Social - desde 18 de março de 2007

Esta página foi criada para registrar e expor, a opinião, a indignação e o sentimento de cada ser que construiu esta história, que hoje, é um aglomerado de sonhos e atitudes de cada pessoa que por aqui deixou sua marca. Estes são nossos rostos e nossas palavras.

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terça-feira, 29 de junho de 2010

Grupo Corpo em Rito

Tomo a liberdade em nome do Grupo Corpo em Rito para pronunciar relato acerca do acontecimento sobre o Centro Independente de Cultura Alternativa e Social (CICAS).

Não me espanta a notícia da ameaça de derrubada de um Centro Independente de Cultura Alternativa e Social, localizado na periferia da cidade de São Paulo, regido por jovens artistas empenhados em trabalhar contra o esgarçamento das relações sociais tão eminente nessa nossa sociedade.

Artistas que ao promoverem diversas ações tais como: oficinas, espetáculos, shows, etc, preocupam-se não em proporcionar meros entretenimentos à comunidade. Mas, em estabelecer, a partir de um PROCESSO a possibilidade de transformação das relações sociais.

Aos ouvidos de muitas pessoas a ação desses artistas não passa de mera distração, carregada de um discurso utópico inútil. Mas a repercussão silenciosa naqueles que vivenciam os processos artísticos promovidos nesse local parece fornecer a idéia de que as experiências artísticas, e principalmente as experiências artísticas coletivas, mobilizam canais significativos na formação das pessoas, bem como na possibilidade de reestruturação das relações dessas pessoas com o outro e com o meio.

A arte precisa passar a fazer parte da educação, pois, é só através dela que se pode alcançar determinados aspectos do desenvolvimentos intelectual, físico e social dos seres.

Para exemplificar, cito comentário acerca do som.

"...Se considerarmos as características físicas do som, vamos constatar que a percepção de todo o som se dá não apenas por um pedaço pequeno de pele chamado tímpano, mas por toda a pele, e que portanto a audição é uma operação corporal (...) Som é vibração. e vibração opera sobre a pele. Podemos dizer, portanto, que toda voz e todo som é um tipo de massagem, uma estimulação tátil, uma massagem sutil. (...) (Norval Baitello Junior)

Ou seja, a arte é capaz de nos tornar mais humanos, além de trazer a possibilidade de nos fazer ascender as funções físicas e psíquicas do corpo.

Citei o exemplo sobre o som, mas isso pode ser estendido as diversas formas de manifestação artística, cada uma a seu modo.

O que vem sendo construído no Centro Independente de Cultura Social e Alternativa não tem o objetivo de alcançar resultados objetivos, lógicos, rígidos, determinados, puramente práticos e funcionais. É do humano que se trata alí, e do vislumbre de outras possibilidades que não sejam as comumente apresentadas (como por exemplo as informações fornecidas pela escola, pelas grandes mídias, etc.). Mas tão pouco se trata de um espaço que apenas fornece informações, mas sim, de um espaço que promove experiências. E é, a partir disso, do experienciar, que ali se constrói o saber, como a própria etimologia da palavra nos diz e cria a relação entre experiência e aprendizado (saber vem de sapio, saborear).

Em outras palavras, as ações realizadas no Centro Independente de Cultura Alternativa e Social nos permite vagar para além desse mundo INÚTIL, construído de lixo, essa sociedade da razão, do julgamento, baseada na recompensa e no castigo, que sobrevive de fomentar a culpa, e princípios individuais que não correspondem aos coletivos.

Toda a possibilidade e horizonte de negação das imposições que geram a desigualdade entre os homens, foi no século XIX (quando a sociedade industrial nasceu e o sistema capitalista começou a se consolidar) substituída pela palavra UTOPIA. Ou seja, substituída por mais um mecanismo de controle.

Por isso é preciso resistir, como observo que tem sido feito na Avenida do Poeta, 740, no Jardim Julieta, zona norte da cidade de São Paulo.

Vejo sim, nesses artistas e nessas ações a crença de que a ARTE é o que hoje pode nos conduzir para a possibilidade de transformação sutil, de construção de relações sinceras e não meramente formais instituídas. E mesmo que isso parece não nos levar a nada, ou só nos levar a qualquer coisa, é preciso mover-se.

“Existe um risco nisso tudo, mas acho que nas circunstâncias atuais vale a pena corrê-lo. Não creio que consigamos reavivar o estado de coisas em que vivemos e não acredito nem mesmo que valha a pena apegar-se a essa idéia; Mas proponho alguma coisa pra sair do marasmo, ao invés de continuar a gemer diante desse marasmo e desse tédio, diante da inércia e da imbecilidade de tudo.”
(Antonin Artaud)

Tenho medo do que poderíamos nos tornar sem a arte.
Nietzche, já disse: "temos a arte para não morrer pela verdade".

Karla Maria Passos/ Grupo Corpo em Rito.
http://corpoemrito.blogspot.com

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